One minute history
Há muito tempo atrás, eu ganhei de uma professora um livro que tinha muitas dinâmicas para sala de aula, categorizadas pelos mais diversos objetivos de aprendizagem. Não lembro agora qual era o nome do livro, mas usei ele sempre em situações muito específicas.
Eu fazia magistério, na época. Sim, aquele curso técnico a nível médio que ensina pessoas a darem aula pra educação infantil e anos iniciais. Eu passei por duas fases muito críticas, durante o magistério.
No primeiro ano, eu queria trabalhar com bebês. E foi só o que eu fiz. Trabalhei a maior parte do tempo com crianças de 4 meses até 2 anos. Era realmente algo que eu amava.
No segundo ano, essa professora que me deu o livro, precisou me mudar de ambiente. Eu precisei ir trabalhar com Ensino Fundamental. Lá, eram crianças de 6 a 10 anos. E eu não queria. Queria continuar com os bebês, "lá eu era feliz". Eu fui, insatisfeita. E comecei a vivenciar, dia a dia, a falta de motivação.
No fundo, eu queria os extremos: ou bebês, ou ensino médio (era o extremo que eu conhecia). Mas no Magistério, por motivos óbvios, não podíamos dar aula para os nossos pares.
Uma das tradições mais conhecidas no Magistério é a "Regência". De vez em quando, nós assumíamos as aulas no processo de estágio. Ficávamos responsáveis por dar alguma atividade, passar alguma parte de um conteúdo, levar a turma, com sucesso pra algum lugar sem perder nem machucar ninguém (processo traumático do ensino fundamental, a tal da fila), tudo isso pra, no fim do segundo ano, fazer a Regência. E o que é?
Assumir uma turma durante o dia letivo. Todo ele. Nos preparamos quase o ano todo pra 1 dia só. Eram 5 ou 6 matérias, cada uma com um conteúdo, uma atividade. E foi no stress de planejar tudo isso que essa professora me deu esse livro.
Particularmente, aprendi mais com ela do que qualquer outro professor na época. Ela foi minha tutora, foi suporte pra todas as minhas ideias malucas, e me colocou pra ajudar na maioria das ideias malucas dela.
Tudo que eu sei sobre didática, aprendi com ela, nessa época.
Voltando agora, ao livro de dinâmicas. Foi nesse contexto, em que ela me deu o livro. Eu obviamente, suguei toda a informação que tinha nele. Usei na minha regência, que foi muito legal e me gerou um 10 no boletim que eu nunca vou esquecer e em mais alguns momentos específicos da vida.
Essa semana reutilizei uma das dinâmicas do livro. Depois de passar pela faculdade, duas especializações, 80% de um mestrado, uma formação e meia em programação e desenvolvimento. E depois de ter decidido dar um passo pra trás da sala de aula, trabalhando basicamente com planejamento, execução e acompanhamento de aulas: no mercado de trabalho.
Nesse período (quase 10 anos depois) eu posso concluir que eu expandi meu conceito de extremo e acabei nunca dando aula pro Ensino Médio.
E onde eu usei o livro?
Nós vamos fazer um jogo. Precisávamos deixar nossa criatividade livre. Fazer atividades de criatividade com adultos é sempre um desafio único. Depende de muitas variáveis.
Pensando no jogo, nós precisávamos criar uma história que fosse engajante, divertida. E seria muito difícil fazer isso sem usar um "processo", mas ao mesmo tempo o processo precisava ser caminho pra liberdade. Deveria dar autonomia para que pudéssemos criar. Era muito fácil se perder em detalhes, e poderíamos ficar semanas só criando a história. Usamos então, uma dinâmica do livro.
Tínhamos 5 gêneros de jogos. Cada membro do time recebeu, por sorteio, um gênero para começar. Por um minuto, só digitamos. Sem pensar, categorizar, analisar, reescrever ou corrigir erros de escrita. Em seguida, trocamos de gênero. Assim, todos os membros do grupo escreveram pelo menos 2 linhas em cada uma das histórias. Em questão de 30 minutos, tínhamos 5 histórias, dos mais diversos gêneros. Algumas eram um completo desastre. Mas duas delas, "até que dava pra usar".
No Ensino Fundamental nós usamos isso pra divertir, distrair, passar o tempo, testar habilidades de escrita e leitura.
Na Academy, nós utilizamos isso como artefato de criação, resultando num ambiente completamente seguro para errar, rir e escrever uma história sem dar limites pro nosso entendimento de "normal", "seguro" ou "correto". É a dinâmica perfeita pra quem quer criar histórias sem limites, de maneira participativa entre grupos de qualquer tamanho.
Obrigada, Andrea Chaves, por proporcionar todas essas experiências na minha vida, além de ter me dado o apoio necessário pra que eu crescesse. Não consigo expressar em palavras o sentimento que essas lembranças trazem pra mim. Estou com saudades ❤