Challenge Based Learning: Engage

Mariana Beilune Abad
9 min readFeb 15, 2019

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Tive minha primeira experiência como aluna em CBL no dia 10 de novembro de 2018. Foi uma experiência memorável e quero compartilhar com vocês. Mas antes, é importante fazer uma contextualização aqui.

O Challenge Based Learning foi criado em 2008 com o nome Apple Classrooms of Tomorrow. Criado dentro da própria Apple, tinha como proposta identificar os princípios essenciais do design do ambiente de aprendizagem do século 21, com foco no ensino médio.

Basicamente, o método aborda uma engajadora e multidisciplinar maneira de ensinar e aprender que encoraja estudantes a utilizar a tecnologia do seu cotidiano para resolver problemas do mundo real. CBL é colaborativo e ativo, estudantes trabalham em grupos, com professores, especialistas, comunidades, aprendendo a fazer boas perguntas e tentando de certa maneira encontrar respostas para elas (até quando não tem resposta você é levado a pensar numa lista de tarefas para encontrar a resposta).

Antes de entrar um pouco mais no método, meu coração pedagogo não permite que eu não fale sobre as habilidades do profissional do futuro. CBL não faz sentido sem elas. Ao todo, são 10 habilidades que serão indispensáveis para o ingresso no mercado de trabalho na era digital (que é agora!!!!!).

1.Resolução de problemas complexos

A habilidade consiste na capacidade de resolver problemas novos e indefinidos em ambientes reais e se constrói a partir de uma base sólida de pensamento crítico.

2. Pensamento crítico

O pensamento crítico envolve lógica e raciocínio. O profissional deve ser capaz de usar a lógica e o raciocínio para questionar determinado problema, considerar várias soluções para aquele obstáculo e colocar os “prós” e “contras” na balança, a cada nova abordagem.

3. Criatividade

Ser criativo é ser capaz de conectar informações aparentemente díspares e, a partir dessa conexão, construir novas ideias para apresentar algo “novo”. A avalanche de novos produtos e novas tecnologias vêm exigindo dos profissionais uma boa dose de criatividade para que possam se beneficiar de todas essas mudanças.

4. Gestão de pessoas

Saber gerenciar pessoas significa saber motivar equipes, maximizar a produtividade e responder às necessidades dos funcionários. A gestão de pessoas é uma ferramenta muito importante e se conecta diretamente com a inteligência emocional.

5. Coordenação com os outros

A coordenação com os outros é uma habilidade social importante, que envolve saber se comunicar, trabalhar com pessoas de diferentes personalidades e, acima de tudo, lidar com as diferenças encontradas em cada uma delas.

6. Inteligência Emocional

A inteligência emocional compreende também identificar nossos próprios sentimentos, para que possamos nos motivar e gerir as emoções dentro de nós

7. Julgamento e tomada de decisões

Diante do gigantesco volume de dados que as organizações estão reunindo nos dias de hoje, é cada vez maior a necessidade de profissionais com capacidade não apenas de ler e interpretar essas informações, mas também de tomar decisões cruciais.

8. Orientação de serviço

Como os valores estão mudando rapidamente, saber orientar corretamente os clientes será uma habilidade essencial no mercado de trabalho. Mais do que saber orientar, o profissional deverá conhecer seu público, estudar seus clientes, para adaptar os produtos e serviços oferecidos à realidade do consumidor.

9. Negociação

A capacidade de negociar com colegas, gestores, clientes e equipes estará no alto da lista de habilidades desejáveis.

10. Flexibilidade cognitiva

Quanto mais flexível uma pessoa é, mais facilmente ela será capaz de enxergar novos padrões e fazer associações únicas entre ideias.

Tá, mas e o que eu quero dizer com isso?

Vamos entrar um pouco mais no CBL pra entender onde as duas coisas se cruzam.

O CBL é dividido em 3 grandes partes: Engage, Investigate, Act (em português: engajar, investigar e atuar). Nessa reflexão, vou me concentrar na primeira parte, o Engage.

ENGAJAR

Essa primeira parte acredito que foi a que eu mais gostei. Basicamente, temos um alvo, "Big Idea" (ou Grande Ideia, em português). Esse alvo é um (ou vários) problemas de impacto mundial. No meu primeiro contato com o CBL, utilizamos os Global Goals. Eles foram criados por líderes mundiais que colocaram 17 objetivos para tornar o mundo melhor até 2030. Depois de algum tempo pesquisando sobre cada um dos objetivos, tivemos oportunidade de diminuir o número de objetivos para 3 até que os mentores sortearam entre os três, apenas um que ficaria. No caso do meu grupo, ficamos com o objetivo 10: reduzir desigualdades a nível mundial.

Fizemos então uma pergunta (Essential Question) que iria guiar nossos trabalhos e abaixo dela colocamos 10 objetivos (Challenge) e ações que poderiam ser tomadas em relação ao problema. Selecionamos dois deles para guiar nossa solução.

Ainda nesse problema, fomos provocados no sentido de conseguir escrever 30 perguntas (Guiding Questions) sobre o problema que seriam geradas através de uma discussão com o grupo. Pudemos então escrever uma lista de tarefas para responder as perguntas que não tinham respostas e responder as que nós sabíamos a resposta. O resultado ficou assim:

Nessa primeira experiência, tinha achado tudo muito rápido, quase não tínhamos tempo de acompanhar o que estava acontecendo e com a introdução muito rápida a metodologia, também surgiam muitas dúvidas acerca de regras que poderiam (ou não) mudar o direcionamento da tarefa que estávamos fazendo.

Uma característica interessante do CBL é justamente o incentivo ao trabalho em grupo, basicamente, quase todo o trabalho é feito em comunidade. Se tivesse que descrever em uma palavra seria cocriar.

Levando isso em consideração e já fazendo uma comparação com as habilidades do profissional do futuro, gestão de pessoas, coordenação com os outros, negociação e flexibilidade cognitiva são habilidades que só podemos desenvolver em grupo e na prática. Como o CBL faz isso? Nos motivando a resolver problemas complexos, que por um acaso também é uma dessas habilidades.

Ano passado comecei a trabalhar com esse mundo novo, de Startups Enxutas. E lá descobri que tudo, absolutamente tudo, precisa de um PROPÓSITO. As Startups mais bem sucedidas do mundo tinham um propósito bem claro, uma cultura bem delimitada e talentos que podiam ajudar a tornar aquilo possível. O engage do CBL me lembrou muito essa relação entre o propósito e o sucesso de uma Startup.

A partir do momento em que eu ajudei a gerenciar essa Startup, percebi que não era só da venda de produtos e de serviços que a empresa se "alimentava". A cultura, no mercado 4.0 é um dos fatores influentes no poder de compra do usuário final. Portanto, o sucesso de uma empresa não pode ser medido apenas pela força de venda, mas sim, pelo impacto de sua cultura no mercado. E isso tem muito a ver com a fase do Engage.

Encontrar seu propósito é essencial e primordial, sem ele você não tem nada.

E como dizia Walt Disney:

E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar…
Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.
Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde.
Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer.
Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de”amigo”.
Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, “o amor é uma filosofia de vida”.
Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente.
Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas…
Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornarem-se realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar… simplesmente durmo para sonhar.

Na minha segunda experiência com o Engage, nossa Big Idea foi Smart Cities. Nela, tivemos mais tempo para entender melhor o tema, consultar especialistas, tirar uma série de dúvidas para aí sim, começar a desenvolver o resto das atividades.

Após as reflexões e palestras sobre Smart Cities, nos reunimos em grupos sorteados para criar as Essential Questions. Nesse momento, percebi um movimento da equipe de desenvolver as habilidades de negociação, para que chegássemos a conclusões antes do fim do prazo. Também foi preciso inteligência emocional para poder lidar com diferentes opiniões e saber perceber a perspectiva do outro.

Em seguida, validamos nosso trabalho com outros grupos e tivemos a oportunidade de opinar no trabalho dos outros. Nessa hora, a habilidade de pensamento crítico foi a que mais entrou em cena. Pessoalmente, procuro dar feedbacks cada vez mais construtivos, tentando descrever melhor o que estou sentindo que está faltando ou que podia melhorar. Feedbacks construtivos não são apenas apontar o erro, mas sim apresentar o caminho para concerta-lo e é preciso inteligência emocional para saber transmitir esse feedback.

Enquanto validava os trabalhos dos outros grupos, notei que o CBL, como método, tem algumas falhas. Acredito que por nossa educação básica ser muito regrada e quadrada, não estamos habituados com certos tipos de "liberdade". Vou explicar em passos:

  1. Pediram para fazermos perguntas
  2. Ficamos com dúvida de como era o modelo dessas perguntas
  3. Nos perguntamos como deveríamos escrever essas perguntas
  4. Perguntamos para os professores e mentores que palavras deveríamos usar as perguntas

Essa indecisão e insegurança, no caso, para o nosso grupo não foi bem um problema, apesar de ter tirado um pouco do nosso tempo. Mas ela poderia ser e eu explico como:

O processo criativo precisa de emoção para acontecer. A emoção é elemento chave no aprendizado e desencadeia um processo de sentidos. O professor deve sempre buscar a percepção do aluno, considerando as circunstâncias essenciais do momento em que elas aparecerem.

Dentro do processo criativo, o ser humano é condicionado a reagir à certos estímulos e usa a emoção para isso. As emoções podem ser boas ou ruins e resultam em ações que podem ser assertivas ou não:

Esse é o conteúdo de Fundamentos da Aprendizagem, parte da minha monografia

O que quero dizer com isso? Um método que gera insegurança para o aluno, mesmo que seja em uma atividade e que ela seja rápida, pode levar a sentimentos ruins do aluno que resultam em ações rápidas num movimento contrário do que gostaríamos como mentores e orientadores.

Por um outro lado, concordo que o método deve ser aberto e generalista, para que não limite a criatividade (que é uma das habilidades do futuro e também é desenvolvida no CBL). Mas faria essa mudança aos poucos, para que não fosse sentida pelos alunos.

Para facilitar: Você como aluno, sempre foi ensinado a seguir modelos já prontos para atividades em sala, desde antes de aprender a ler ou se comunicar com palavras. Num certo momento da vida, quando você já tem sua personalidade formada, você entra num curso que muda todo o seu paradigma e agora, que você já está acostumado a seguir modelos para tudo, tem que desconstruir essa constante.
Posso elencar dois problemas aqui:
1-A mudança ocorre de repente e você não tem tempo para se adaptar
2-Você pode não ter desenvolvido as habilidades necessárias para estudar sem um modelo pronto que te traga segurança

Desta forma, creio que toda mudança, deve ser feita aos poucos, de maneira quase imperceptível, alterando pequenas partes da rotina, desenvolvendo essas habilidades para aí então sim, mudar completamente o paradigma.

Enfim, notei que esse sentimento percorreu não só o meu grupo, mas muitos outros. De um outro ponto de visão, enxergo essa insegurança de maneira positiva. De certo modo, todo esse sentimento nos trouxe um sentimento de comunidade que fez juntarmos 4 grupos em um lugar e todos validamos as perguntas ao mesmo tempo, fazendo uma prévia da apresentação e dando feedbacks. Esse senso de comunidade fazia muito tempo que eu não via em uma turma que se conhece tão pouco.

Foi lindo de ver, e não vejo a hora de repetir.

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Mariana Beilune Abad
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Written by Mariana Beilune Abad

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